quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Deus Irene

93 anos hoje, e olha que é muito tempo.

Irene Melloneves, a sua partida foi fulminante e a contragosto, sabemos todos. De nada adiantou o seu apego à vida, como se pudesses comandar o tempo dado. Ficaram tuas árvores e dias amanhecentes, ficou tua obra ainda por terminar publicações, ficamos nós no pouco entendimento dos traçados divinos, mas seguindo caminhos próprios.
Te beijo o coração que ficou plantado nos teus sítios viajados, tua imensa vontade de vida e quero no fundo de minha alma que estejas muito além de tudo isso que deixastes para trás, Irene fé, Irene alegria de raiz, Irene mãe.


A GRANDEZA DO ENXERGAR

Vida – a doação de ver,
a grandeza do enxergar.
Deus nos deu um coração
se exercendo pra o saber,
pedindo eterna a canção
do nosso reflorir;
em nova dimensão –
que tenha eterno o pão
na palavra e na visão,
nós cantando ave-marias
num rosário de alegrias,
os deleites conhecer;
a poesia no saber
a libertação na dor
de estarmos sós;
nos livre do temor
de ter luas apagadas,
nossas naves consumidas
quando a mestria dos anjos,
do feio pó, nos faz flor.
Vida – a doação de ver,
a grandeza do enxergar
todas as naves do céu –
mesmo cego o olho meu.
Poema de Irene Melloneves, todos os direitos reservados.


QUANDO EU ME FOR

Quando eu me for,
vocês morrerão de saudade,
ó árvores de minha casa
que reverencio e abraço.
Quando eu me for,
ó sementeira de meus gestos,
tenra grama de meus passos
e corolas dos meus risos,
circundando as jovens galhas;
os pássaros aconchegados
na acolhida das folhas,
que vocês farão por mim?
Que seria eu sem seus vínculos
de brisas e de seus cantos?
E a palavra ciciante
ao meu ouvido e nos ombros,
que traz os contatos seus?
Quando eu me for
poderão perguntar a Deus
por que o laceramento
da nossa afeição, no corte
de uma morte?
Porque então Deus não deixou –
mesmo cega ou sem andar,
ó árvores de minha casa,
eu, com vocês, aqui, ficar?
Poema de Irene Melloneves, todos os direitos reservados.

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