segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Chegando o Dia do Silêncio



Chegando o dia do silêncio. O dia em que nada mais deverá ser dito.. O total des/ânimo quanto à pertinência da palavra quotidiana, o único e último motivo se resumindo em existir e assistir de bem longe as estórias se enrugando, perdendo o viço e a cor, atentos apenas os olhos e ouvidos, enquanto o mundo desmorona sob o imediatismo do homo sapiens.

Exauridas e já impotentes palavras se aconchegando para a hibernação necessária. E me parece que esse inverno vai ser longo.
Os dias de silêncio, talvez o ano de resguardar pensamentos, fatalmente o tempo de se voltar para dentro. Estações de esperas para entender porquês. Eu, você, o universo de sons que vem também da alma com pontas e lâminas ou as angústias existenciais que não quero mais. Me restrinjo ao não falar, na busca de cura, de remendos ou suturas de pós-guerras, cansada de tantas lutas e letras.
Em frente à mesa de trabalho, uma fiel cadeira e um casaco deixado sobre seu dorso desgastado de tanto encosto. Silencioso ou conformado, o respaldar acolhe esse pano modelado calado colado, mensagem dúbia de velhos Barnabés que nem sabem se voltam. Lá fora buscando nuvens muito além de vidros e janelas, pássaros perfilados se projetam em revoada muda e parece que desligaram o rádio da vida. Foram baixando o volume tagarela dos dias, até que tudo quisesse adormecer para cumprir anunciadas sentenças de cem anos em letargia.
Chegando o dia do silêncio. Embaçadas visões de um tempo engolido, condenação de bruxa velha, picada funda de agulha nos dedos frágeis das nossas juventudes. E depois de tanto querer dizer, nada mais a significar, lanterna a clarear um passado que sobrevive sob estados de esquecimento, você do outro lado desse mar a poetar em gestos o que os ouvidos não alcançam, ondas e ressacas abafando tudo.
Tempo de silêncio em que me protejo dos sons de mim mesma na busca da paz negociada com os vazios deixados de declínios e morte.

InesNeves, todos os direitos reservados.