segunda-feira, 26 de julho de 2010


IRENE DE MELLONEVES,
Quem foi você

Que passou pela minha longa curta vida, cheia de dores e dotes trajando panos coloridos, transparências e brilhos em pele de marfim, paixões avessas em forma humana?
Mulher esquerda, tropeços de rainha em cascalho solto ou predestinado bicho do mato, aprendiz de mundo torto a invadir seus estados alados, quem foi você?
Nascida de uma barriga em mundo grave, grave/idade de planeta velho das dores mais comuns ou contundências de facas e flores, verde aprendiz de jogos mortais e eu não conheci você..
Seu tempo de existir compõe hoje progressiva lista de obituário, nomes ou números em silenciosa procissão de retirantes que o tempo engole e obscurece, e eu penso.
Irene chegou compondo a trupe desse palco magirreal, brigou, amou, se machucou e esfolou a alma. Marcou passagem desfilando em estrada antiga o seu circo deslumbrante de gente pobre e de tanto carregar caixões azuis em cortejo de crianças, acabou ficando alegre/triste.
Me deixou assim meio sem centro malentendendo sua ida e em verdade eu não sei quem foi você.
Tocam jazz. Aquela quaresmeira novamente pronta para floração, celebra e marca mais um janeiro de tantos que virão de seu adeus. Eu aqui, coração branco olhando infinitudes, árvores, capim e pássaros. Você um dia se deslumbrou com as cores e flores desse tropical recanto a exalar luz boa, mas definitivamente não mais podemos compartilhar dos bálsamos dessa vida.
Quem foi você que nos descortinou as deslumbrantes e inusitadas paisagens dessa vida como quem oferece simplesmente água? Caminhou conosco sobre os desacertos do inusitado e compôs poemas sem perder o rastro da fonte mais pura, sem perder o coração. Guardo em zêlo esse baú precioso de espólio bento e o aperto contra o peito, mas parece que vai nevar.

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