sábado, 10 de julho de 2010

Mutação©

Estou mudando. Mudando de idade, de fé, de era e de coração. Estou sentindo todas as dores do crescimento, ossos, nervos, músculos se tensionando e se estranhando na busca de encontros e inteirezas, enquanto o tempo me pede vigilância e prudência nesse estado de passagem.
Como se o meu maduro corpo novo demandasse renúncias de pele e apelos, acordo pelas madrugadas compondo versos de não ser e me lanço em contendas que me mutilam os sonhos, as crenças, tudo girando nos vórtices duros e sem paixões de alguma sina que malentendo. E dói. Entontece. Taquicardias se sobrepõem à minha moribunda alegria de viver e meu coração sai chutando restos e tocos de lembranças do que poderia ter sido. E quanto mais eu teimo em ser e entender, mais cortes de faca fina me marcam o destino. Me esquivo de algum golpe na cara do meu dia, me aprumo, reflito e me contenho porque quero sobreviver ao caos já estabelecido.
Mas como a mudança pode nos lacerar! Desapegos, paciência, humildade, entregas, tudo cruamente pessoal. Não vejo mão amiga amorosa em disponibilidade, já que todas as mãos do mundo se ocupam nos seus particulares remos de naus em desgoverno, planeta, país, cidade e corações se arvorando em tempos do não tempo.
Mas sei que estou mudando, como as baratas e formigas em mutação nas idades e eras, intuitivamente criando couraças e espertezas.


Texto de InesNeves. Todos os direitos reservados.

Um comentário:

  1. Inez. Que prazer poder ler um texto tão forte e poético! Perplexidade, interrogações,desejo, medo, dor: Mutações...
    Pintora e escritora talentosíssima!
    Parabéns!
    Mariza

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