sexta-feira, 23 de julho de 2010

IRENE jovem©

12 de agosto de 1917-12 de Janeiro de 2007.
Irene estaria completeando seus 93 anos de idade no próximo dia 12. Aos 17 publicou o primeiro livro e nunca mais parou. Trabalhou nos seus escritos até os últimos dias de sua existência e deixou obra extensa, grande parte ainda a ser publicada.


Abri mala pequena, frasqueira com divisórias e cantos. Me apareceu um pente grande com um pouco de poeira, fios de teus cabelos em hibernação, testemunhas vivas de tua ausência., de tua morte. Cabelos não se desfazem no mesmo compasso do corpo. 
Revivi teu gesto ao se pentear, cabelos brancos cacheados, esmero e determinação. Me pareceu voltar no tempo ou o tempo voltou em mim e te trouxe bem perto, mistérios presentes a me entontecer, Irene mãe. Você querida, em constante vigília nos meus dias vagamundeantes de torpor do nada saber, certamente a gravitar sobre os canteiros sonhados que não vingaram. Acordo a mente e te seqüestro em passado/presente, mãos, pés, gestos, nariz afiladinho de vestal caída em campo de contundências. Braba vida de incautos arremessos para o quase nada e tu ainda acreditavas.
Quero, mãe Irene, guardar de ti a força do querer. Herdar de ti a crença, o terço, o arquivo de sonhos que eram teus olhos. E depois, um dia entender nossos caminhos de pedras e ardores; nossas mãos marcadas dos cajados que foram se esfolando pelas estradas e encruzilhadas de armadilhas, nossa cumplicidade de umbigo justificando tudo.
Dia abafado de sol quente em estação de inverno pelo avesso. O tempo, dono de tudo, antevendo o arquear das minhas costas maduras e ainda nada sei. Apenas assisto ao compasso dos mendigos da luz que desfilam buscas e incompreensões, eu também catando Lilases e Edelweiss em pedra bruta, esperando brotar água limpa nos grotões das minhas saudades e devaneios. Herança tua, rastros teus, Irene.

Registros de filha tua em dia 8 Internacional da Mulher
Texto de InesNeves, todos os direitos reservados. 

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